25 janeiro 2014

"Opiniões" não se discutem #2


E como não poderia deixar de ser, gostava de expor aqui o meu ponto de vista acerca das praxes, um tema que tem feito correr muita água debaixo da ponte, em especial na última semana, e devido ao trágico acidente do Meco.
Para mim, o assunto de praxes nunca despertou grande interesse, porque apesar de ter uma irmã mais velha a estudar à noite na Universidade Lusófona, a verdade é que ela nunca se ligou a essas atividades, nem comprou o traje, ainda que o vá comprar para a Queima das Fitas.
Posto isto, o meu primeiro contacto mais direto com as praxes e a ideia do que elas realmente representam fez-se em 2012, quando grande parte dos meus amigos mais próximos entrou na faculdade (eu troquei de área no secundário e atrasei um ano). Vi-os divertidos, a entrarem num mundo novo que era a faculdade, a serem integrados e a orgulharem-se de vestir o traje para o traçar e a Serenata a Lisboa.
Em Setembro chegou a minha vez. Sabia o que esperar, já tinha ouvido, mas algumas coisas acabam por variar de curso para curso.
No geral, gostei das minhas praxes, principalmente os grupos em que fomos divididos, que ajudaram a criar desde logo laços de amizade, desde a entreajuda coletiva até ao cuidado que tinhamos em trazer para casa um ovo, como se fosse nosso filho.
Claro que existiram situações das quais não gostei. Uma delas foi logo no dia de apresentação, a comermos de pulsos amarrados, e alguns doutores a roubarem comida do prato dos caloiros. Outra situação era, por vezes, o sol abrasador a que estávamos sujeitos, chegando alguns caloiros a ficarem doentes devido a essa situação.
Podia definhar muita coisa boa e má acerca da praxe. A verdade é que não me posso queixar muito, mas também acho que algumas coisas podiam mudar. Nem toda a praxe é, definitivamente, praxe. Não é nada, sequer.
Existe, por exemplo, o conceito de praxe solidária que eu particularmente adoro e que, com muita pena minha, não realizei, ao contrário de amigos de outros cursos como Medicina Dentária, em que ajudaram a pintar muros.
Acho que a praxe deve ser vista de várias formas. Para mim, e apesar de ainda estar à pouco tempo na universidade, a "suposta praxe" que alguns dizem ter-se realizado na praia do Meco, não pode ser praxe, e se o é, fico chocada ao imaginar ao que qualquer caloiro está sujeito.
Pedras nos pés, meias rotas? Por favor, acho que um curso é mais que isso. Acho que quem entra pela primeira vez na faculdade se deve sentir integrado e devem ser feitos esforços para essa integração, tanto da parte dos caloiros como dos doutores, e não é com estas supostas actividades que alguém se insere onde quer que seja.
A meu ver, a praxe não tem que ser levada ao extremo; tem sim de funcionar como elo de ligação dentro e fora do curso, uma experiência de boas vindas à faculdade, e não um ritual que acompanhe os alunos pelo seu percurso académico a fim de serem humilhados.
Como caloira, nunca participei em todas as praxes, simplesmente porque achei um exagero, quase um mês de praxes, sem qualquer hipótese de concentração que as aulas pediam. Recusei-me várias vezes a ir porque necessitava de tempo para me organizar, e nesse aspecto sinto-me agradecida pela compreensão de alguns doutores. Eles já tiveram no nosso lugar, sabem (uns, outros não) o que é ser caloiro. E simplesmente acho que tem de ser pedido o mesmo respeito, dos dois lados!
Posto isto, concordo com a praxe, só acho que existem situações que estão fora do controlo e não é preciso morrerem 6 pessoas para que isso se perceba. Praxe deve ajudar a integrar através da amizade, do interesse pela instituição e pelo curso, pela ajuda e pelo valor que os alunos de uma universidade devem ter.
Se a tiverem que banir por este tipo de acontecimentos, acho que será o fim da tradição académica para uns e a justiça feita para outros.

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